O processo como objeto final no design

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Design é projeto. Acredito que todos nós que estamos no campo do design, seja no âmbito acadêmico ou na prática da profissão, já ouvimos falar neste significado para a palavra design, e eu particularmente gosto dessa relação.
O profissional Designer tem como objetivo final o projetar de algo, a concepção de alguma coisa, buscando a resolução de algum problema ou obstáculo, e gosto de pensar que não importa muito a natureza desses. E o fruto dessa concepção é também um algo, que passa a ocupar o lugar do problema ou do obstáculo, mas deixarei para aprofundar nisso em outro momento. O que quero falar aqui é sobre o meio do caminho entre o Designer e seu artefato final, que está contido no projetar: o processo de design.

Não precisamos nos esforçar muito para enxergar os processos em nossa vida, algo bem semelhante ao que entendemos por algoritmos, ou seja, uma sequência de ações que determinam um resultado, mas aqui conseguimos traçar uma distinção interessante: processos não são rigorosos e por isso conseguem gerar resultados diferentes a depender de quem o realiza. Processos são maleáveis. Design é, por tabela, processo, e processos resultam em artefatos frutos do processo. Nem só o designer vive de processos. Arquitetos, artistas, artesãos … todas essas áreas possuem um processo para chamar de seu, mas aqui abordarei mais especificamente processos no campo do design.

O processo do design

O fazer do design passa pelo processo. Há uma variedade de frameworks de processos de design, que em geral passam por entender, idear, construir e entregar esse algo, com mais ou menos passos dentro de cada uma dessas etapas. Mesmo que aparentem ter escopos fechados, esses frameworks não são imutáveis e é muito natural que cada um de nós os adapte conforme nossas necessidades, seja enquanto profissional solitário, seja em equipes.

Muitas vezes, é preciso combinar mais de paradigma um para solucionar a necessidade de uma equipe ou empresa, muitas vezes até mesclando modelos e/ou trazendo abordagens mais adequadas para determinados fins. Design Thinking, por exemplo, visa ter uma linguagem mais atraente para pessoas não designers, geralmente do mundo corporativo, que desejam colocar pessoas no centro de seus processos de concepção de produtos, ou abordagens como Lean Inception, que sequer possui foco em design, mas que nos ajudam a apontar para um caminho de mínimo viável para um produto inicial, podendo ser parte de um processo de design, e aqui deixo como exemplo o processo da Objective, uma amálgama de vários frameworks. Processos, portanto, servem como um guia de viagens. Podemos nos guiar por eles, mas os caminhos sempre dependem de nós.

Cada etapa de um processo de design, independente do objetivo, gera informações, e podemos entender isso como um artefato para além do próprio projeto alvo. No print acima
está o resultado de meses de trabalho em um processo de pesquisa de experiência com foco em um determinado produto, mas que pode e deve gerar insights para decisões
em outros campos da organização, fugindo assim ao próprio objetivo inicial do processo. Aqui, entendemos os resultados gerados em cada etapa do processo de design como informação gerada, tratada e interpretada, ou seja, um conhecimento consolidado.

Artefatos provenientes do processo de design, quando tratados como entregáveis, podem ser cruciais para uma organização e seus times. Além do conhecimento gerado, servem como maneira de integrar novos membros ao time,
já que permite a qualquer um retroagir no que foi trabalhado anteriormente em determinado produto. É preciso, no entanto, torna-las entendíveis e acessíveis. Ferramentas como o Miro ajudam nessas horas, mas é preciso achar maneiras de reverberar esse conhecimento para outros setores da organização para que eles saibam que esses artefatos
existem e, assim, tomar partido dessas informações.

O design para além do produto final

Entendemos que Design é projeto e projetos visam resolver problemas, mas que há um meio do caminho que chamamos de processo, que liga o que queremos resolver até a sua resolução propriamente dita, o objeto final. Mas podemos
e devemos pensar o processo, também, como gerador de pequenas resoluções, ou seja, objetos, a cada iteração.

Entender bem as etapas do processo e realiza-las como partes de um todo, mas com fins em si mesma, pode ser uma excelente maneira de gerar frutos para além do objeto final, indo além de simplesmente documentar, dando vida própria
a cada parte. É sobre construir um conjunto de cartinhas independentes e colecionáveis ao invés de quebra-cabeças.

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